Desafios da comunicação organizacional na era digital (*)
A era digital chegou chegando, e nem todos os setores da sociedade tiveram a capacidade de acompanhar o novo ritmo “ragatanga” da vida em redes sociais digitais.
Ao passo em que passamos a ter múltiplos emissores de mensagens – em oposição aos emissores únicos da era da TV - nunca foi tão desafiador comunicar as causas como agora, tanto para fora quanto para dentro. Margarida Kunsch é uma grande teórica da Comunicação Orgaizacional e nos lembra que é preciso situar a sociedade em que vivemos para analisar o contexto e planejar ações propositivas de intervenção, tanto nos meios sociais, políticos, econômicos quanto no meio da comunicação corporativa. Ela já dizia isso em 2014, quando publicou o livro "Comunicação Organizacional: contextos, paradigmas e abrangência conceitual" (Ed. Matrizes).
Para além da intensa polarização política que estamos testemunhando nos tempos atuais, a velocidade da vida mudou com a chegada da era digital. Governam-se países respondendo a eventos cotidianos com 240 caracteres no Twitter, e isso pauta a vida nacional - do noticiário televisivo ao bate-papo no boteco da esquina. É ou não é? Enquanto isso, a maioria das organizações da sociedade civil, renomadas pela sua atuação histórica e relevante, continuam tentando explicar ao seu público qual é o problema que tem afetado tão profundamente as suas próprias vidas.
Ora, todo mundo conhece muito bem os seus problemas. As pessoas querem soluções! Eu já escrevi sobre isso num texto chamado "O poder da esperança e os 70%" (lembra deles?). É essencial abandonar a naturalização de que o discurso de uma organização é voz de autoridade para que a comunicação possa cumprir sua função estratégica na busca pelos objetivos institucionais. A marca é importante, mas já deixou de ser um carimbo de credibilidade. O Coletivo Narrativas já entendeu isso e disponibilizou um e-book precioso para comunicadores e comunicadoras progressistas, e desde então venho divulgando este material que pode nos ajudar bastante a sair da espiral do silêncio.
Um outro desafio de ordem prática na comunicação organizacional é a contínua precarização das relações de trabalho e a ideia de produtividade desenfreada. Novamente, a dinâmica do “temos que responder a isso agora!” prioriza a execução de uma comunicação sem estratégia, dissociada dos objetivos institucionais, e míope. Nesse ritmo, que profissional consegue pensar a comunicação a longo prazo?
E segue o baile: posts e mais posts, hits de mídia, chuvas de likes, e a sociedade continua perdida, acreditando em qualquer meme de WhatsApp. São as chamadas "métricas de vaidade": ótimos números nas redes sociais, sem que esse esforço gere, necessariamente, o impacto pretendido na sociedade. Este é um dos desafios éticos da comunicação organizacional nos tempos atuais: fazer a diferença para fora, enquanto ouve e dá espaço aos seus talentos internos.
Essa adaptação tem sido um desafio prático para as organizações do terceiro setor, especialmente aquelas que trazem práticas e modos de atuação arraigados de décadas anteriores. Neste sentido, trago a reflexão de Rosângela Lasta em seu trabalho "Práxis Reflexiva das Relações Públicas" (XXXIX CBCC 2016), especialmente se aplicada a organizações da sociedade civil brasileiras, quando ela diz que a cultura na sociedade midiatizada se baseia na dinâmica das produções e co-produções entre múltiplos atores, mas que as organizações ainda enfatizam sua voz como única “emissora” de mensagens.
Isso precisa ser rapidamente reformado. Em tempos de comunicação digital, as pessoas precisam estar no coração de todas as suas estratégias, e se você precisar de ajuda para implementar uma nova abordagem de comunicação na sua organização, pode contar comigo! Entre em contato!
(*) Texto publicado originalmente na Comunidade Marketing de Gentileza e adaptado para a publicação no blog.
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